O próximo conclave para a eleição do novo papa começará em 7 de maio de 2025, reunindo 135 cardeais eleitores na Capela Sistina. Após o falecimento do papa em abril de 2025, a Igreja Católica se prepara para escolher seu novo líder espiritual. Neste atigo trago para você os principais cardeais considerados "papáveis" - candidatos com potencial para se tornarem o próximo pontífice -, destacando seus perfis, posicionamentos e experiências que os colocam como possíveis sucessores. Lembrando que esta é só uma suposição. Afinal, O Espírito Santo quem escolherá o próximo papa.
Cardeal Malcolm Ranjith
O Cardeal Malcolm Ranjith atualmente serve como arcebispo de Colombo, no Sri Lanka. Conhecido por suas posições conservadoras, Ranjith demonstra experiência tanto em governança quanto em trabalho pastoral. Em um país tradicionalista como o Sri Lanka, suas posições tendem a refletir valores conservadores, tendo chegado a referir-se à homossexualidade como um "defeito".
Ranjith mantinha boa relação com o Papa Francisco, compartilhando com ele a preocupação pelos pobres. No entanto, divergia em questões importantes: declarou-se favorável à pena de morte em certos casos e defendeu um retorno "à verdadeira liturgia da Igreja", posicionando-se contra algumas das reformas litúrgicas promovidas pelo antigo pontífice.
Um ponto notável em seu perfil é sua extraordinária capacidade linguística - Ranjith é fluente em dez idiomas: italiano, alemão, francês, hebraico, grego, latim, espanhol, inglês, cingalês e tâmil. Esta habilidade poderia ser um diferencial importante para liderar uma Igreja universal com fiéis em todas as partes do mundo.
Cardeal Anders Arborelius
Anders Arborelius, com 75 anos, atua como arcebispo de Estocolmo desde 1998, quando foi indicado pelo Papa João Paulo II. Considerado o católico mais proeminente da Suécia, serviu como seu único Ordinário por quase três décadas.
Um aspecto interessante de sua trajetória é sua conversão ao catolicismo apenas aos 20 anos, após ser criado na tradição luterana. Depois de dedicar um ano e meio ao estudo da religião católica, Arborelius afirmou que "a verdade lhe foi dada através da fé católica".
O Papa Francisco já o apontou como um "modelo" para a Igreja, declarando em 2022: "Ele não tem medo de nada. Conversa com todos e não se opõe a ninguém. Ele sempre busca o positivo. Acredito que uma pessoa como ele pode indicar o caminho certo a seguir". Em termos de posicionamentos, Arborelius é contra transformar o celibato em opção para padres, opõe-se a que mulheres sejam diaconisas e ao uso de contraceptivos, enquanto apoia a preocupação da Igreja com as mudanças climáticas e a promoção de sua democratização.
Cardeal Matteo Zuppi
Aos 69 anos, Matteo Zuppi serve como arcebispo de Bologna, Itália. Foi indicado ao cargo pelo Papa Francisco em 2015, que também o nomeou cardeal em 2019. Atualmente, ocupa também a posição de chefe da Comissão Episcopal Italiana.
Zuppi pertence à ala progressiva no Vaticano, vendo como necessárias reformas na Igreja Católica, incluindo maior democratização e revisão de medidas milenares, como a proibição de que divorciados recebam a comunhão. Em uma declaração teologicamente significativa, chegou a afirmar que a fé em Deus nem sempre é necessária para a salvação, reconhecendo "atos notáveis de altruísmo" entre os não-crentes.
Um dos aspectos mais progressistas de seu perfil é sua aprovação das relações homoafetivas. Zuppi defende que a Igreja não discrimine pessoas LGBTQIA+ e que estas sejam acolhidas dentro da instituição. Foi um dos maiores apoiadores da decisão do Papa Francisco de permitir bênçãos a casais do mesmo sexo.
Sua visão de Igreja enfatiza a "misericórdia", acreditando que a instituição deve "ouvir novamente as muitas questões do mundo" enquanto "rejeita o ódio". Defende uma "solidariedade autêntica", o pluralismo religioso e a "fraternidade", incentivando a Igreja a ir às periferias para ajudar os pobres e marginalizados.
Cardeal Pierbattista Pizzaballa
Pierbattista Pizzaballa, de 60 anos, é o patriarca de Jerusalém e o segundo papável mais jovem entre os cotados. Tornou-se cardeal há apenas dois anos, nomeado pelo Papa Francisco.
Pizzaballa ganhou destaque internacional ao se oferecer como refém para o Hamas em troca da libertação de crianças israelenses após os ataques de 7 de outubro de 2023. Classificou as ações do grupo extremista como "bárbaras" e as condenou veementemente, pedindo paz na região.
Demonstrando uma posição equilibrada no complexo conflito do Oriente Médio, o cardeal também pediu o fim da ocupação israelense em Gaza, sendo um dos signatários da "Declaração sobre a crescente crise humanitária em Gaza", que condenava ataques a civis e o bloqueio israelense à entrada de ajuda humanitária na região. Em uma visita simbólica a Belém em 2023, vestiu um keffiyeh - o lenço preto e branco que simboliza a causa palestina.
Em termos doutrinários, Pizzaballa possui uma visão relativamente conservadora, mas reconhece que a Igreja pode se abrir ao presente. Como o Papa Francisco, acredita que a Igreja deve estar aberta a todos, mas ressalta que "não deve pertencer a todos".
Cardeal Fridolin Ambongo Besungu
Nascido na República Democrática do Congo, Fridolin Ambongo Besungu tem 65 anos e atua como arcebispo de Kinshasa. Foi nomeado cardeal em 2019 pelo Papa Francisco e designado membro do Conselho de Cardeais no ano seguinte. Atualmente, também preside o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar.
Besungu tem um histórico de envolvimento político significativo, descrevendo-se como um "sentinela" que mantém posição crítica contra o atual governo da República Democrática do Congo1. No início de 2024, chegou a ser acusado de "comportamento sedicioso que leva a atos criminosos" por um promotor público, após criticar a atuação do governo sobre a segurança do país e questionar a posição do Poder Judiciário em relação à suposta má gestão de fundos do executivo. O processo foi posteriormente arquivado.
Seus discursos políticos frequentemente abordam questões contemporâneas como anticolonialismo e imigração, demonstrando preocupação com a justiça social1. No espectro teológico, Besungu apresenta uma mistura de visões liberais e conservadoras: rejeita a bênção a casais homossexuais e a opção pelo celibato para padres, mas defende maior democratização da Igreja e maior preocupação institucional com as mudanças climáticas.
Notavelmente, Besungu enfrentou o Papa Francisco após a decisão papal de permitir bênçãos a casais do mesmo sexo. Em carta dirigida ao pontífice, rejeitou a medida argumentando que tais bênçãos "não podem ser realizadas na África sem expô-los [os casais] a escândalos"1. Defendeu ainda que forçar esse tipo de bênção na cultura africana seria equivalente a uma "colonização cultural"1.
Cardeal Willem Eijk
Willem Eijk, de 71 anos, serve como Arcebispo Metropolitano de Utrecht, na Holanda. Com formação acadêmica distinta, possui doutorado em medicina, embora mantenha a religião como sua ocupação principal. Foi nomeado cardeal em 2012 pelo Papa Bento XVI.
Eijk representa uma das vozes mais ortodoxas entre os papáveis, posicionando-se contra a presença de meninas coroinhas, a tornar o celibato opcional para padres, o uso de anticoncepcionais pelos fiéis e as bênçãos para casais homossexuais. Em entrevista, chegou a afirmar que relações LGBTQIA+ são "contrárias à ordem de criação de Deus".
Sua postura rigorosa se estende à questão dos divorciados, tendo declarado em 2015 que casais divorciados que pedem novos casamentos sem terem as primeiras uniões anuladas representam "uma forma de adultério estruturado e institucionalizado". Defendeu que o papa deveria deixar claro que o casamento é "único e inquebrável", e que católicos que se casam novamente após divórcios não deveriam poder receber a comunhão.
Em uma decisão controversa, Eijk ordenou a remoção de uma colaboradora transgênero da paróquia de Norbertus, onde atuava como tesoureira, apesar de protestos dos diretores da paróquia e outros membros da Igreja.
Cardeal Charles Bo
Charles Bo, aos 76 anos, serve como arcebispo de Yangon, em Mianmar. Proveniente de uma família pobre com dez filhos, foi nomeado cardeal em 2015 pelo Papa Francisco, que também o convidou para representá-lo em várias ocasiões.
Bo possui significativa experiência no Vaticano, tendo participado da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, do Pontifício Conselho para a Cultura, além de se tornar membro da Secretaria de Comunicações do Vaticano em 2016. Em 2018, o Papa Francisco o nomeou delegado ao Sínodo dos Bispos sobre juventude, fé e discernimento vocacional.
Embora mantenha uma posição teológica fundamentalmente ortodoxa, Bo demonstra abertura em algumas questões: é favorável à democratização da Igreja, à preocupação com o meio ambiente e à possibilidade de que divorciados possam comungar, posições consideradas liberais no contexto eclesiástico.
Em um aspecto mais pessoal, Bo é conhecido por seu gosto por atividades esportivas, especialmente futebol e basquete, que costuma praticar com outros padres e religiosos.
Cardeal Jean-Marc Aveline
Jean-Marc Aveline, de 66 anos, atua como arcebispo de Marselha, na França. Sua biografia é marcada pela experiência da imigração: nasceu em uma família francesa na Argélia, então colônia francesa, e teve que deixar seu país natal aos quatro anos de idade, quando a Argélia conquistou sua independência da França em 1962. Ele próprio afirma que essa experiência de deslocamento o tornou mais sensível e consciente sobre a situação de imigrantes e exilados.
Um aspecto controverso de seu histórico é sua longa atuação como diretor espiritual da comunidade Emmanuel, fundada em 1972, na qual têm sido repetidamente relatados casos de abuso.
Cardeal Robert Sarah
O cardeal guineense Robert Sarah, de 79 anos, é uma das figuras mais conhecidas do grupo conservador do Colégio Cardinalício. Ex-prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Sarah é reconhecido por suas posições firmemente tradicionais em temas litúrgicos e morais, sendo um crítico das reformas promovidas por Francisco. Apesar da idade avançada, que o impede de votar (acima de 80 anos), seu nome ainda é citado em círculos conservadores como símbolo de uma possível guinada tradicionalista, embora suas chances reais sejam consideradas baixas, principalmente por não ser eleitor.
Luis Antonio Gokim Tagle
Conhecido como "Chito", é um cardeal filipino de 67 anos, visto como um dos favoritos ao papado. Foi arcebispo de Manila (2011–2020), presidente da Caritas Internationalis e prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos no Vaticano. Tagle é associado à ala progressista da Igreja, defende uma Igreja mais humilde e aberta, critica o uso de “palavras duras” contra pessoas LGBTQIA+ e divorciados recasados, e apoia que estes possam comungar caso a caso. É carismático, comunicativo e próximo do Papa Francisco, que o promoveu a cargos de destaque em Roma.
Lista dos cardeais brasileiros eleitores:
Dom Odilo Pedro Scherer (75 anos)
Arcebispo de São Paulo, é um dos cardeais mais influentes da América Latina. Já foi considerado forte candidato em 2013 e mantém grande experiência em cargos no Vaticano.
Dom Leonardo Ulrich Steiner (74 anos)
Arcebispo de Manaus, conhecido como o "cardeal da Amazônia", destaca-se pelo compromisso com questões ambientais e indígenas, temas valorizados pela Igreja sob Francisco.
Dom Sérgio da Rocha (65 anos)
Arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, foi membro do Conselho de Cardeais que assessorou Francisco. É reconhecido por apoiar pautas de inclusão e combate à homofobia.
Dom Jaime Spengler (64 anos)
Arcebispo de Porto Alegre e atual presidente da CNBB. Tem formação em filosofia e teologia, com experiência internacional e perfil conciliador.
Dom Paulo Cezar Costa (57 anos)
Arcebispo de Brasília, é o mais jovem entre os brasileiros no conclave. Tem sólida formação acadêmica e experiência em eventos internacionais, como a Jornada Mundial da Juventude.
Dom Orani João Tempesta (74 anos)
Arcebispo do Rio de Janeiro, ganhou destaque internacional ao receber o Papa Francisco durante a JMJ de 2013. É visto como conciliador e pastoral.
Dom João Braz de Aviz (77 anos)
Arcebispo emérito de Brasília, já foi prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, com forte atuação na Cúria Romana.
Conclave e Processo de Escolha
O conclave para a eleição do novo papa começará no dia 7 de maio de 2025, conforme anunciado pelo Vaticano. Este processo ocorrerá na Capela Sistina, com a participação de 135 cardeais que têm direito a voto.
No dia de abertura, os cardeais celebrarão uma missa solene na Basílica de São Pedro antes de se reunirem na Capela Sistina para o início formal do conclave. Uma vez dentro da Capela, toda comunicação com o mundo exterior será interrompida até que um novo papa seja escolhido.
O procedimento de votação seguirá um ritmo específico: na primeira tarde, haverá apenas uma rodada de votação; a partir do segundo dia, os cardeais realizarão quatro votações diárias - duas pela manhã e duas à tarde - até que um candidato alcance a maioria necessária. Para ser eleito papa, o candidato precisa receber dois terços dos votos dos cardeais eleitores.
Embora não haja previsão exata sobre a duração deste conclave, vale observar que os dois processos anteriores, realizados em 2005 e 2013, foram concluídos em apenas dois dias.
Conclusão
O próximo conclave apresenta um grupo diversificado de cardeais papáveis, com representantes de diferentes continentes, idades e visões teológicas. Desde conservadores como Malcolm Ranjith e Willem Eijk até progressistas como Matteo Zuppi, o colégio cardinalício reflete as diversas correntes de pensamento dentro da Igreja Católica contemporânea.
A escolha do próximo papa determinará o rumo da Igreja Católica nas próximas décadas, especialmente em relação a temas controversos como a aceitação de pessoas LGBTQIA+, o papel das mulheres na Igreja, a resposta às mudanças climáticas e o posicionamento institucional frente a conflitos geopolíticos mundiais. Embora seja impossível prever com certeza quem será o próximo pontífice, as credenciais, experiências e posturas teológicas dos cardeais aqui apresentados oferecem importantes indicações sobre os possíveis caminhos que a Igreja poderá seguir após o conclave de maio de 2025.