Conclave 2025: "Rezemos para que o Espírito Santo nos dê um Papa segundo o coração de Deus"


Início Solene do Conclave: Uma Igreja em Oração

No dia 7 de maio de 2025, a Basílica de São Pedro foi palco de um dos momentos mais significativos para a Igreja Católica mundial: a Missa pro eligendo Pontifice (para a eleição do Romano Pontífice), que marcou o início oficial do conclave para escolher o sucessor do Papa Francisco. Em um ambiente de profunda solenidade e espiritualidade, 133 cardeais eleitores se reuniram para invocar a assistência do Espírito Santo antes de entrarem na Capela Sistina para iniciar o processo de votação.

A Homilia do Cardeal Re: Um Chamado à Responsabilidade e ao Discernimento

O Cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, presidiu esta celebração histórica e, em sua homilia, destacou a magnitude da missão que os cardeais eleitores estão prestes a realizar.

"Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar sua luz e força para que o Papa eleito seja aquele de quem a Igreja e a humanidade precisam neste momento difícil e complexo da história", disse o cardeal de 91 anos, com voz firme e decidida.

Uma das afirmações mais contundentes de sua homilia foi sobre a atitude fundamental que deve guiar os cardeais: "Este é um ato humano para o qual toda consideração pessoal deve ser deixada de lado, tendo em mente e no coração somente o Deus de Jesus Cristo e o bem da Igreja e da humanidade."

Esta declaração ressoa com a tradição da Igreja, que reconhece que a eleição do Papa, embora feita por homens, deve ser guiada por uma profunda sensibilidade espiritual e eclesial, acima de interesses particulares ou visões limitadas.

O Amor como Força Transformadora

Refletindo sobre a leitura do Evangelho de João 15, o Cardeal Re destacou o mandamento de Jesus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Esta referência não foi casual, mas intencionalmente ligada à missão que o novo Papa terá de enfrentar.

"O amor é a única força capaz de mudar o mundo", afirmou o cardeal, recordando também a expressão de São Paulo VI sobre a "civilização do amor". Este conceito tem sido central no magistério da Igreja nas últimas décadas, particularmente nos pontificados de São João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

A Missão Essencial do Papa: Promover a Comunhão

Uma das passagens mais significativas da homilia foi a clara definição da missão primordial de cada sucessor de Pedro: promover a comunhão em múltiplos níveis.

"Entre as tarefas de cada sucessor de Pedro está a de promover a comunhão: comunhão de todos os cristãos com Cristo; comunhão dos bispos com o papa; comunhão dos bispos entre si", explicou o cardeal, acrescentando que esta não é uma "comunhão autorreferencial", mas voltada para a unidade entre pessoas, povos e culturas.

Em um tempo em que polarizações e divisões ameaçam tanto a sociedade quanto a própria Igreja, estas palavras ganham uma relevância especial. O próximo Papa terá o desafio de ser um construtor de pontes em um mundo fragmentado.

A Continuidade do Ministério Petrino


O Cardeal Re fez questão de sublinhar a natureza do ministério petrino como uma realidade que transcende a pessoa concreta que o exerce: "A eleição do novo papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o apóstolo Pedro que retorna."

Esta afirmação teológica fundamental nos lembra que, na fé católica, cada Papa, independentemente de sua personalidade, origem ou estilo de governo, encarna a missão confiada por Cristo a Pedro: ser a rocha sobre a qual a Igreja é edificada (Mateus 16,18).

O Conclave sob o Olhar do Cristo Juiz

Em um momento particularmente impressionante de sua homilia, o Cardeal Re evocou o cenário do conclave, a Capela Sistina, com seu imponente afresco do Juízo Final, pintado por Michelangelo.

Citando o "Tríptico Romano" de São João Paulo II, ele recordou como o Papa polonês meditou sobre o significado dessa imagem para os cardeais eleitores: a figura de Cristo Juiz deveria lembrar a todos "a grandeza da responsabilidade de colocar as 'chaves supremas' nas mãos corretas".

Esta referência visual e espiritual conecta o ato concreto da eleição com sua dimensão escatológica: os cardeais devem escolher tendo em vista não apenas as necessidades imediatas da Igreja, mas sua missão eterna de conduzir as almas à salvação.

Um Papa para o Mundo de Hoje

O mundo contemporâneo, com seus avanços tecnológicos impressionantes, mas também com sua tendência a "esquecer Deus", necessita de uma liderança espiritual capaz de responder a desafios inéditos. O Cardeal Re expressou esta necessidade ao dizer:

"Rezemos para que Deus conceda à Igreja um Papa que saiba despertar da melhor forma as consciências de todos e as energias morais e espirituais da sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus."

Esta frase sintetiza o desafio central do próximo pontificado: como tornar a mensagem cristã relevante e transformadora em um mundo que, frequentemente, parece prescindir da dimensão transcendente.

A Universalidade da Igreja

A celebração eucarística refletiu a catolicidade (universalidade) da Igreja também na forma como foram conduzidas as Orações dos Fiéis: em francês, suaíli, português, malaiala (língua falada na Índia), chinês e alemão.

Esta diversidade linguística expressou simbolicamente o alcance global da missão do Papa e o caráter multicultural da Igreja Católica no século XXI. O próximo pontífice será chamado a ser pastor de uma comunidade de fiéis espalhada por todos os continentes, enfrentando realidades sociais, culturais e pastorais extremamente diversas.

Os Próximos Passos do Conclave

Após a missa, os cardeais seguiram uma programação cuidadosamente estabelecida. Depois do almoço, reuniram-se na Capela Paulina do Vaticano, de onde processaram até a Capela Sistina. Lá, cada um fez o juramento individual, prometendo observar as normas da Constituição Apostólica e manter o sigilo sobre tudo o que ocorrer durante o conclave.

Após o histórico "Extra omnes" ("Todos os outros fora"), pronunciado pelo Mestre das Celebrações Litúrgicas Papais, Arcebispo Diego Ravelli, os cardeais eleitores permaneceram sozinhos, ouvindo uma meditação do Cardeal Raniero Cantalamessa, Pregador Emérito da Casa Pontifícia, sobre a missão que os aguarda.

Iniciou-se então o processo de votação, com a primeira cédula sendo prevista para o mesmo dia. A conhecida tradição da fumaça - preta quando não há eleição, branca quando um novo Papa é escolhido - manterá o mundo informado sobre o andamento do conclave.

A Intercessão de Nossa Senhora

O Cardeal Re concluiu sua homilia invocando a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja: "Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, interceda com sua intercessão maternal, para que o Espírito Santo ilumine as mentes dos cardeais eleitores e os ajude a concordar sobre o papa que nosso tempo precisa".

Esta referência mariana não é apenas uma convenção piedosa, mas expressa a profunda convicção católica de que Maria tem um papel especial na vida da Igreja, particularmente nos momentos decisivos de sua história.

Reflexão para Nós, Fiéis

Como fiéis católicos, somos convidados a unir nossas orações às dos cardeais eleitores, pedindo ao Espírito Santo que ilumine suas mentes e corações. O conclave não é apenas um procedimento institucional, mas um evento de fé que envolve toda a Igreja.

As palavras do Cardeal Re podem nos guiar em nossa oração pessoal: que o próximo Papa seja "segundo o coração de Deus, para o bem da Igreja e da humanidade". Esta fórmula simples, mas profunda, nos recorda que o ministério petrino não existe para si mesmo, mas para servir a missão evangelizadora da Igreja no mundo.

Em um tempo marcado por incertezas, polarizações e desafios sem precedentes, a eleição de um novo Papa representa não apenas a continuidade de uma instituição bimilenar, mas a renovação da esperança cristã de que, através da ação do Espírito Santo, a Igreja continuará a ser, como desejou o Concílio Vaticano II, "sacramento, ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano" (Lumen Gentium, 1).

Enquanto aguardamos o anúncio "Habemus Papam" ("Temos Papa"), permaneçamos em oração, conscientes de que estamos vivendo um momento histórico para a Igreja e para o mundo.


Nota: Este artigo foi escrito com base nos acontecimentos do início do conclave de 2025, relatando especialmente a homilia do Cardeal Giovanni Battista Re durante a Missa para a Eleição do Romano Pontífice, celebrada na Basílica de São Pedro em 7 de maio de 2025.

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