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Os Carismas segundo São Paulo

São Paulo apóstolo já foi chamado o teólogo da "graça". E com toda a razão. A palavra "graça", em grego "charis" ocorre 155 vezes no Novo Testamento. Dessas ocorrências, 100 vezes são nos escritos paulinos e mais 8 vezes na Epístola aos Hebreus. 

Derivada da palavra grega "charis" é a palavra "charisma" que ocorre 17 vezes no Novo Testamento, sendo que 16 vezes são em São Paulo. Das 16 vezes que São Paulo usa expressamente a palavra carisma, 6 vezes é na carta aos Romanos, e 7 vezes na Primeira aos Coríntios. Os dois textos paulinos mais importantes são o capítulo 12 da primeira aos Coríntios, o capítulo 12 da epístola aos Romanos. Vamos tratar aqui apenas da lista dos carismas no capítulo 12 da primeira aos Coríntios. 

CARISMAS
Nos versículos 8-10 São Paulo faz uma lista de 9 carismas: a mensagem da sabedoria; a palavra da ciência; a fé; carisma de curar; o poder de fazer milagres; a profecia; o discernimento dos espíritos; o dom de falar línguas; o dom de interpretar. 

Para São Paulo, esta lista não constitui os carismas por excelência. No fim deste mesmo capítulo ele cita outros carismas (versículos 28, 30 e 31) e no capitulo 12 de Romanos elenca ainda outros. Logo não se trata aqui de uma lista exaustiva de todos os carismas. Isso significaria que todos os carismas possíveis já teriam sido enumerados no Novo Testamento e que o Espírito Santo deveria limitar-se hoje a distribuir os dons que já teriam sido concedidos nos tempos apostólicos. Ora, o Espírito que é a vida da Igreja, cada dia, procede do Pai e do Filho (dimensão eclesial do Filioque) para dar novos dons que permitam fazer face, em cada época, às novas necessidades da Igreja, com a liberdade soberana da qual ele dispõe. 

ANÁLISE DOS CARISMAS EM (I COR 12, 4-10) 
Vamos fazer uma leitura dos textos paulinos. Em (1 Cor 4-6) lemos: "Há diversidade de carismas, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversidade de operações, mas é o mesmo Deus (Pai) que realiza tudo em todos". 

Uma primeira observação é a relação explícita que faz São Paulo entre os carismas e o mistério da Santíssima Trindade que está na origem dos carismas. Um traço característico dos carismas é que são graças distribuídas. São Paulo utiliza três palavras: charismata (dons), diakonia (serviço) e energemata (operações) e atribui os carismas ao Espírito, os ministérios ou serviços ao Senhor Jesus e as operações ou poderes a Deus Pai. 

Por meio desta fórmula trinitária, S. Paulo salienta a origem divina dos carismas. O apóstolo não pretende indicar três categorias distintas de dons, mas quer pôr em evidência que todos os dons da graça (charismata) são destinadas ao serviço (diakonia) e que todos manifestam a operação do poder divino (energemata). 

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
V.7: "Cada um recebe o dom do Espírito em vista do bem comum". Literalmente o texto diz: para a utilidade de todos. A tradução corrente "em vista do bem comum", tem seu valor porque indica a dimensão eclesial dos carismas. Mas também tem sua limitação porque pode ser que alguém receba um dom principalmente para seu benefício. Assim S. Paulo inclui na lista dos carismas o dom das línguas e afirma que "aquele que fala em línguas edifica a si mesmo" (14,4). Logo o que São Paulo espera dos carismas é que ele seja "edificante", isto é, construtivo para a Igreja. A expressão "cada um recebe", ou "a cada um é dado" traduz a experiência que teve Paulo na Igreja de Corinto e indica a idéia da distribuição diversa dos dons mas, sobretudo, a sua universalidade. 

PALAVRA DE CIÊNCIA
V.8: O Espírito dá a um a mensagem da sabedoria, a outro a palavra de ciência. Que diferença há entre o "logos" (palavra) de sabedoria e o logos (palavra) de ciência? Em 1Cor 8, 4-5. Paulo explica que a (palavra de ciência) é uma percepção intuitiva da realidade, uma aplicação prática e não de um conhecimento teórico. 

PALAVRA DE SABEDORIA
Quanto à sabedoria, São Paulo distingue entre a sabedoria dos homens (1Cor 2, 5-13) e a sabedoria de Deus (2,7). Esta sabedoria de Deus é a que permanece escondida aos príncipes deste mundo, aquela que Deus nos revelou por seu Espírito (2,7-10). Esta sabedoria é identificada à pessoa de Cristo. O Cristo Jesus que, de Deus, tornou-se para nós, sabedoria (1,30). Por conseguinte a palavra “sabedoria” significa uma compreensão do plano de salvação estabelecido por Deus. Logo uma "palavra de sabedoria" é uma palavra que manifesta um novo conhecimento intimo do mistério da redenção por Jesus Cristo. 

GÊNERO DA FÉ
V.9: A um outro a fé no mesmo Espírito. O gênero de fé que Paulo coloca na lista dos carismas distribuídos pelo Espírito, não é a fé pela qual o justo viverá (Rm 1,17) e sem a qual é impossível agradar a Deus. Trata-se antes do gênero de fé capaz de transportar as montanhas (1Cor 13,2) isto é, o dom de confiar em Deus e em sua intenção de intervir com poder numa dada situação. 

CURAS
V.9: A outro, os carismas das curas. Os dois substantivos aqui estão no plural: carismas e curas. Paulo fala três vezes deste dom em nosso capítulo (v.9, 28, 30): sempre com a mesma fórmula. Deve-se notar, portanto, que Paulo não atribui a alguém "o dom de curar" (alguém que teria o dom habitual de curar), mas vê em cada cura um carisma distinto ou dom da graça. 

Algumas pessoas podem ser instrumentos do poder divino para operar curas. Mas não se pode falar de um "dom de curar", isto é, um poder habitual e carismático de curar doentes.

MILAGRES
V.10: A outro o poder de operar milagres. O texto não diz propriamente que alguém tenha o dom de "fazer milagres". Como no caso das curas, S. Paulo coloca as duas palavras no plural "energemata dynamenon" (operações de poderes). Esta palavra “poderes”, "operações" no versículo 6 é atribuída a Deus Pai, que "opera tudo em todos". O emprego desses dois substantivos no plural (operações de obras de poder), salienta a teologia de S. Paulo, segundo a qual cada milagre ou outra manifestação do poder divino é um carisma distinto. Se uma pessoa recebe com freqüência este carisma, é porque Deus a escolheu utilizar com uma certa regularidade como instrumento das suas "obras de poder". 

PROFECIAS
V.10: A um outro a profecia. A palavra profeta tem fundamentalmente dois sentidos. O primeiro sentido é descrito pelo Vaticano II como a participação de todos na missão profética de Cristo: "O Povo santo de Deus participa, também, da função profética de Cristo: difunde seu testemunho vivo, antes de tudo por uma vida de fé e de caridade. Oferece a Deus um sacrifício de louvor, o fruto dos lábios que celebram seu nome" (L.G. n.12). Outro sentido é a vocação profética no sentido estrito como apelo de Deus a ser profeta. 

O carisma da profecia, enquanto carisma particular, se distingue de ambos os sentidos. O carisma enquanto graça grátis data distingue-se da vocação de profeta, porque uma pessoa pode receber ocasionalmente o carisma de profetizar sem ser chamado a ser profeta. 

A profecia comunitária. Na primeira carta de S. Paulo que é a epístola aos Tessalonicenses, ele se refere a certos membros dessa Comunidade que profetizavam e diz: "Não extingais o Espírito, não desprezeis os dons da profecia, mas verificai tudo, conservai o que for bom" (lTs 5, 1-21). Paulo fala aqui da "profecia comunitária". Em 1 Cor 14, S. Paulo exorta os corintios a aspirar também aos dons espirituais, sobretudo ao de profecia. Com isso, evidentemente Paulo não quer dizer que todos sejam profetas. Paulo se refere nesses textos à assembléia cultual, na qual cada um deve dar sua contribuição pessoal. Além dos profetas vocacionados, outras pessoas recebem o carisma de profetizar na assembléia. Paulo encorajava a profecia comunitária e exortava a se ter uma grande abertura para acolher a inspiração de profetizar, dando, assim, uma contribuição pessoal à liturgia celebrada em comum. 

S. Paulo exorta os corintios a aspirar o dom da profecia, visto que esse dom era o mais útil para a edificação da comunidade. Essa exortação de S.Paulo vale ainda hoje para os cristãos, que devem aspira-lo e pedi-lo para a edificação de sua comunidade. Convém notar, porém, que para S. Paulo o dom da profecia nunca significa o dom de predizer o futuro ou de revelar coisas que só Deus pode saber. São Paulo fala somente do gênero de profecia que edifica, exorta, consola e pela qual todos são instruídos e encorajados (1Cor 14,3,31). 

Critérios para aceitar como profecia uma intervenção numa assembléia de oração Qual é a garantia que temos de que uma intervenção numa reunião de oração é uma profecia, isto é, provém realmente do Senhor e não é apenas fruto de uma reflexão pessoal? Em primeiro lugar vem a convicção subjetiva daquele que fala, que deve ter certeza de que a mensagem que ele deve partilhar com o grupo vem do Senhor. Essa convicção deve ser confirmada pelo discernimento do grupo, pois a profecia, em geral, traça uma linha de ação particular para todo o grupo. A pessoa deve ser bem conhecida pelo grupo e não apenas um visitante ocasional. 

Como fator negativo, deve constar a ausência de desequilíbrio mental ou de desregramento de vida daquele que fala. Como fatores positivos deve ser constatado pela experiência que o ministério da palavra exercido por essa pessoa, anteriormente, tenha sempre produzido bons efeitos no grupo. É importante saber que, aquele que fala é uma pessoa de oração e que dê provas de docilidade à palavra de Deus em sua vida. 

Critérios relativos à mensagem: A mensagem não pode conter nada que se oponha à Escritura, ao Magistério, à caridade, à paz e à unidade na Igreja. 

Como critério positivo, não basta determinar que a mensagem seja verídica, oportuna ou apropriada. É preciso que ela atinja o grupo como uma palavra vinda do Senhor. Uma palavra vinda do Senhor é eficaz; ela faz o que significa. Se é uma palavra de consolação, consola, se é uma palavra de correção, leva ao arrependimento. O sinal mais seguro é se a palavra de profecia contribui para o crescimento espiritual e a maturidade do corpo eclesial. 

DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
V.10: A um outro o discernimento dos espíritos. Este dom está ligado ao precedente, isto é, a profecia. A profecia é um "discurso inspirado", e o "discernimento dos espíritos" relaciona-se à faculdade de determinar qual espírito "inspira" a pessoa que fala. Para São Paulo, "espírito" e "inspiração" são termos equivalentes. A graça o discernimento dos espíritos é a capacidade de penetrar o fenômeno da inspiração e de discernir se aquele que fala é verdadeiramente inspirado pelo Espírito Santo ou não. 

LÍNGUAS
V.12,10: A um outro, o dom das línguas, a outro o dom de as interpretar. No fenômeno de Pentecostes descrito no livro dos "Atos dos Apóstolos" (2, 6-11) se narra como os apóstolos falavam em línguas estrangeiras ou cada um entendia tudo sem ter estudado essas línguas. Em São Paulo, o dom das línguas é bem diferente. Não se trata de falar com os homens, mas de falar com Deus. É um modo de oração, na qual aquele que reza em línguas "edifica a si mesmo". 

Na Igreja de Corinto, esse dom era comum. Todos estavam familiarizados com ele. Por isso, Paulo não se detém na sua descrição ou explicação como se tratasse de algo novo ou desconhecido para seus leitores. Paulo limita-se a disciplinar o uso desse dom na assembléia corintiana. Dai a dificuldade que temos hoje para entendê-lo. 

Impossível resumir aqui todas as explicações dadas. Limito-me a algumas pinceladas. 

O dom das línguas não consiste na emissão de simples gemidos ou suspiros inarticulados. É um discurso humano que tem a aparência de uma língua incompreensível tanto para o que fala como para os que o escutam. 

É uma forma de oração particular. Não se destina ao culto público, mas à devoção privada. Não consiste em falar verdadeiras línguas estrangeiras. Não se produz em êxtase, no qual se perde o controle racional dos atos. 

Paulo recorda que nem todos têm esse dom. E dá a seguinte orientação: "Não impeçais que se fale em línguas, mas que tudo se passe dignamente e em ordem" (14,39-40). 

Observam os peritos que a glossolalia reproduz com fidelidade toda sonoridade de uma língua verdadeira, mas é pura fachada. Não possui nem a organização interna nem as relações semânticas de uma língua real. 

A glossolalia foi denominada "a linguagem da oração", porque é capaz de exprimir e de comunicar a outros a atitude interior de oração daquele que fala em línguas. Para muitos a glossolalia foi a chave que abriu o acesso a uma nova experiência de Deus na oração. 

O critério para saber se se trata de verdadeiro dom carismático é verificar o efeito produzido na vida de oração da pessoa. Falar em línguas é um verdadeiro dom da graça, quando tem uma eficácia quase sacramental para significar e para intensificar nossa atitude de oração, particularmente de louvor. 

INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS
V.10: A outros ainda, o dom de interpretar as línguas. Se a glossolalia não é realmente uma língua estrangeira, como pode ser interpretada? Em (1Cor 14,5) se lê: "Aquele que profetiza é superior àquele que fala em línguas. A não ser que ele dê uma interpretação para que a assembléia seja edificada por ela". 

Para Paulo, apesar do dom das línguas ser inferior ao dom da profecia, ele se lhe equipara quando for combinado com a interpretação, para a edificação da Igreja. Nesse caso a glossolalia se iguala à profecia. Com efeito, o dom da interpretação das línguas é uma profecia em dois tempos, e até mais eficaz. 

O "falar em línguas" numa assembléia cultual, cria uma atmosfera de audição interior e uma expectação atenta da palavra do Senhor. Esse dom alerta os que profetizam no grupo, a fim de estarem mais preparados para receber uma inspiração sobre o que o Senhor quer comunicar ao grupo, e coloca também o grupo inteiro alerta para escutar o que se vai dizer. 

Esta "interpretação" não é uma "tradução", mas um carisma diferente que não acontece na oração particular, mas só quando o Espírito suscita alguém a falar em línguas na assembléia, enquanto todos os outros guardam silêncio, preparando, assim, o clima para a intervenção do carisma profético que interpreta exortando, consolando e corrigindo.

Fonte: Sacramusic

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